Revista Coletânea

O uso do Antigo Testamento na Carta de Paulo aos Efésios

Waldecir Gonzaga — 2023-06-23

Desde o século passado, o uso do Antigo Testamento (AT) no Novo Testamento (NT) tem sido um tema muito atual em termos de estudos bíblicos, embora seu interesse sempre tenha existido na história do cristianismo, pois o emprego de textos do AT em textos do NT, a depender do escrito, realmente é uma coisa abundante e sempre chamou a atenção dos leitores do NT. Com o presente artigo objetiva-se, à luz das Escrituras de Israel, localizar possíveis citações, alusões e ecos do AT na Carta aos Efésios, uma das três cartas deuteropaulinas. Em seguida, procura-se analisar como o autor do NT se valeu do uso do AT para consubstanciar seus argumentos, e, sobretudo, ver qual possível mensagem teológica ele queria transmitir a seus leitores e ouvintes, em cada um dos textos empregados. Localizado o uso do AT na Carta aos Efésios, detectado se se trata de citação, alusão ou eco, será oferecido, de forma sinóptica, o texto na língua original hebraica, mais a versão grega da Septuaginta (LXX) e o texto grego do NT da 28ª Edição de Nestlel-Aland (NA28) da Carta aos Efésios, com suas traduções, para se averiguar o percentual de equivalência verbal ou não e se o uso foi literal ou livre. Seguindo o consenso entre os estudiosos, também na carta aos Efésios se constata que o uso da fonte se deu prioritariamente a partir da versão grega da LXX. Enfim, serão analisadas apenas citações e alusões, porém, serão indicados os possíveis ecos do AT nesta carta, com a finalidade de se ajudar em estudos futuros.

Carta aos Efésios segundo a tradição

Dom Henrique de Gouvêa Coelho, OSB — 2023-06-23

Este trabalho tem como objetivo estudar a Carta aos Efesios do
Apostolo Paulo sob a perspectiva da Tradição. Escolhemos dentre os Padres
da Igreja para essa apreciação o bispo de Constantinopla João Crisóstomo,
um dos quatro doutores da Igreja do Oriente cristão, além de ser um dos
maiores admiradores dos escritos paulinos. Este artigo quer ser tão somente
um estímulo para os leitores buscarem na própria obra de João Crisóstomo
uma análise interpretativa no sentido de aprofundar e enriquecer o
conhecimento e os ensinamentos desta carta paulina.

A leitura litúrgica da Carta aos Efésios

Dom Jerônimo Pereira, OSB — 2023-06-29

Uma atenção toda particular à palavra de Deus foi dispensada pelos padres do Concílio Vaticano II. Além da Sacrosanctum Concilium (7,24,35,51), a Constituição dogmática sobre a Divina Revelação, Dei Verbum, especialmente nos números 1, 21, 25 e 26; o Decreto sobre a Atividade Missionária da Igreja, Ad Gentes, no número 6, e o Decreto sobre o Ministério e a vida dos Presbíteros, Presyterorum Ordines, número 8 apontaram muitos aspectos sobre o valor da Palavra de Deus e sobre o restauro do uso da Sagrada Escritura em toda a celebração litúrgica. Uma formal e solene proclamação da palavra de Deus passou a marcar toda e qualquer celebração da Igreja, sacramentos e sacramentais. A reforma do Lecionário foi o meio concreto para atualizar o desejo do Concílio. O presente artigo expõe como a leitura da carta de São Paulo aos Efésios se apresenta dentro do Lecionário do Rito Romano, desde as origens até aos nossos dias. Na última parte, o autor, evidencia o uso da supracitada carta também na Liturgia das Horas.

A atuação dos beneditinos fluminenses junto à Marinha à luz do capitulo sexto da Carta aos Efésios

Dom Mauro Maia Fragoso, OSB — 2023-06-23

São Bento em sua Regra equipara o serviço monástico ao serviço
militar e ao fundar o Mosteiro de Monte Cassino, dedica uma de suas
capelas a São Martinho de Tours, protótipo do monge que deixando as
fileiras da corporação militar passa a integrar a corporação monástica. A
partir desse contexto beneditino, a proposta do presente artigo é vincular o
capítulo 6 da Carta aos Efésios à atuação dos beneditinos fluminenses junto
à Marinha do Brasil e, mais particularmente, a atuação de Dom Carlos
Redomark Fernandes Souza na composição inicial do acervo artístico
religioso da Capela dedicada à Nossa Senhora dos Navegantes, situada
na Ilha de Villegagnon, na Baia da Guanabara. Dom Carlos Redomark,
monge do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, em 1946, foi nomeado
capelão militar da dita instituição, logo deu início à criação de uma capela
e a constituição do seu acervo religioso, adquirindo diversas peças em nos
diferentes países nos quais aportou ao longo da Viagem de Instrução no
Navio Escola, durante o ano de 1951.

O Lógos entre os Efésios: fundamentos filosóficos da doutrina do lógos em Heráclito

Lucia C. Reis Arruda — 2023-06-23

O presente artigo tem por escopo discorrer sobre a origem e o fundamento do termo lógos e a sua relação ao Lógos, refletido pelo filósofo Heráclito, com o intuito de pontuar a possível influência sobre São Paulo, ao escrever, no cativeiro, a sua Carta aos Efésios, em que o Lógos se reporta ao Deus Cristão, e, dirigida à região do pré-socrático. A intenção é a de cercar-se de uma perspectiva filosófica presente na Carta do Apóstolo; a partir de um breve percurso na expansão do termo lógos – em referência à exposição de alguns filósofos (Platão, Aristóteles, Hegel e Heidegger) –, para evidenciar o seu emprego em quatro perícopes da referida Carta, por sua finalidade de cristianizar o Lógos heraclítico no próprio Verbo de Deus.

A Carta aos Efésios e a Educação como cidadania

Maria Elizabete Neves Ramos — 2023-08-23

Este texto parte de uma perícope da Carta aos Efésios que aborda o tema da obediência e o analisa em seu sentido etimológico. Para refletir sobre a relação entre autoridade, educação e cidadania, este trabalho revisita o ensaio de Hannah Arendt “O que é autoridade?” e desenvolve a argumentação sobre o papel da escola, como espaço de relações sociais, tomando por referência a dimensão formativa como indispensável para o exercício da cidadania. Buscou-se ponderar sobre a educação como processo integral de formação humana, contraposta à visão pragmática e utilitária atribuída à educação escolar no mundo moderno. Ampliou-se a discussão ao analisar a prática educativa em seu aspecto formativo mais que informativo, agregando reflexões sobre a Paideia.

Editorial

Dom Basílio da Silva, OSB — 2023-06-23

É tão grande o poder e a eficácia que se encerram na Palavra de Deus, que ela constitui sustentáculo e vigor para a Igreja e, para seus filhos, firmeza da fé, alimento da alma, pura e perene fonte da vida espiritual (DV 21).

Diante disso, a Igreja no Brasil, ao apresentar aos fiéis a Carta aos Efésios como objeto de estudo e de oração no mês da Bíblia, dá voz à perene fome e sede que a Igreja tem do seu Senhor “até que ele venha” (1Cor 11,26). Neste sentido, o presente fascículo da Revista Coletânea oferece ao leitor uma visão poliédrica e, ao mesmo tempo complementar, de uma das Cartas paulinas de maior complexidade retórico-teológica: Paulo de Tarso, aquele que se fez “tudo para todos” (1Cor 9,22), se dirige aos efésios como “apóstolo de Cristo Jesus, pela vontade de Deus” (Ef 1,1) e “ministro do Evangelho”, com a missão de “por em luz a dispensação do mistério oculto desde os séculos em Deus” (Ef 3,7.9), isto é, também aos gentios é oferecida a graça da redenção em Cristo.

A missão paulina que ecoa na Carta aos Efésios, encontra no âmbito exegético um vivo objeto de estudo, colocando-a no rol das assim chamadas Cartas deuteropaulinas, fato que demonstra tanto a vivacidade quanto a densidade do debate atual sobre este texto. Nos últimos vinte anos o mundo anglófono tem feito grandes progressos no estudo do papel do secretário na Antiguidade, o que permite avaliar com maior clareza a autoria paulina da Carta aos Efésios. Tal discussão não minimiza ou mesmo invalida o valor inspirado deste testamento espiritual de Paulo! Esta evidência se manifesta na penetrabilidade da Carta ao Efésios na vida da Igreja, como o demonstram os artigos que constituem este fascículo, abrangendo três áreas do saber, caras ao pensamento beneditino: Teologia, Filosofia e Educação.

Este fascículo tem a sua ouverture solene com o artigo do Prof. Pe. Waldecir Gonzaga, Diretor do Departamento de Teologia da Puc-Rio e Jair Pereira Lacerda Filho, que abordam os fundamentos veterotestamentários da Carta aos Efésios, num estudo que supre uma lacuna em língua portuguesa sobre este delicado tema de Efésios. Em seguida, D. Henrique de Gouvêa Coelho, OSB analisa a complexa dinâmica da Carta aos Efésios a partir da Tradição viva da Igreja, tendo como ponto de partida o comentário de São João Crisóstomo a este texto paulino. Por sua vez, o presidente da Associação dos Liturgistas do Brasil, D. Jerônimo Pereira, OSB aborda a irradiação efésia que se estende vigorosamente na Liturgia da Igreja, dentro da interpenetração vital para a Igreja do binômio lex orandi - lex credendi. Da relação entre o texto bíblico, a Tradição e a Liturgia, brota a leitura beneditina da Carta aos Efésios e seus efeitos na Regra de São Bento e na vida militar, magistralmente desenvolvida por D. Mauro Maia Fragoso, OSB e Héliton Marconi Dantas de Medeiros. A Profa. Lúcia Cavalcante Reis Arruda e D. Tomás Peres, OSB trazem a reflexão filosófica de Heráclito sobre o lógos, um tema de grande importância que germinou em Éfeso antes da revelação cristã do Lógos divino, tema este caro às comunidades paulinas e joaninas da região. O artigo da Dra. Maria Elizabete Neves Ramos, do Grupo de Pesquisa da Faculdade de São Bento, revisita o pensamento filosófico de Hannah Arendt sobre a autoridade, estabelecendo, assim, um diálogo original entre a Paideia clássica e paulina, chegando à realidade da educação brasileira atual.

Uma vez descortinado o amplo horizonte da Carta aos Efésios, que a coletânea destes artigos de excelência oferece a todos os que buscam a Verdade indelével, possam os leitores se tornar uma autêntica “habitação de Deus, no Espírito” (Ef 2,21).